Nós somos mulheres de todas as cores: Precisamos falar sobre interseccionalidade no mercado de trabalho

Outro dia escutei uma música e uma parte dela ecoou dentro de mim. “Nós somos mulheres de todas as cores”. Essa frase curta, mas tão impactante, é capaz de nos levar às reflexões mais profundas, seja no âmbito pessoal ou profissional.

Como mulher negra e ativista dos direitos das mulheres, carrego na minha trajetória marcadores sociais importantes que em alguns momentos me aproximam da história de outras mulheres, geram identificação. E em outros momentos nos diferenciam.

Você deve estar se perguntando, mas o que são marcadores sociais? 

Para contextualizar, são características de nossa identidade tais como sexualidade, gênero, geracional e também são construções sociais – classe, religião, etc. Os marcadores sociais dizem muito sobre como nos posicionamos, mas também como a sociedade nos enxerga ou em certa medida, nos invisibiliza.

Quando falamos de equidade de gênero precisamos olhar para esses marcadores da diferença com bastante intencionalidade. Como reforça a pesquisadora Corin Ramos, da organização Catalyst, que mapeia empresas mais equânimes para mulheres e grupos sub representados:

“Muitos dados atuais sobre as mulheres no local de trabalho são sobre mulheres brancas. Precisamos de mais dados sobre mulheres negras e pessoas em uma gama de identidades que se cruzam, como pessoas LGBTQIAP+ negras, 50+ e com habilidades e competências diferentes. É importante que as empresas usem esse tipo de dado para impulsionar a mudança em suas organizações.”

Por isso, acredito que seja um caminho excelente usar a interseccionalidade como instrumento para trazer pessoas diversas e também para incluí-las. Esse é o passo central para construção de ambientes mais inclusivos. Esse conceito nos ajuda a entender como os marcadores sociais se sobrepõem uns aos outros  e “determinam” quais lugares sociais e ambientes conseguem acessar ou não, por serem que são ou porque fazem  parte de determinados grupos.

Em 2019, o IBGE realizou uma pesquisa que apontou que mulheres negras , receberam, em média, menos da metade dos salários de homens brancos no Brasil, isso representa 44/4%. 

Um estudo feito pela consultoria Indique uma Preta, chamado: “Potências (in)visíveis: a realidade da mulher negra no mercado de trabalho” aponta que de todas as mulheres negras entrevistadas, nenhuma é CEO e apenas 2% é diretora no atual trabalho, contra 3% de gerentes, 3% de supervisoras/coordenadoras, 8% de analistas, 18% de administrativo/operacional, 23% de assistente/auxiliar e 5% de estagiários/trainees.  Ambos os dados são capazes de demonstrar o quão é mais desafiador  a jornada de mulheres negras no mercado de trabalho e como ainda estamos distantes de uma igualdade salarial. Se olhássemos apenas para a perspectiva do gênero, certamente, não conseguiríamos ter essa dimensão. 

Por isso, é tão importante compreendermos como são construídas as relações sociais e encarar as diferenças entre as pessoas de forma mais intencional. Também é importante conhecer esses sistemas de desigualdades e quais grupos de pessoas são as mais atingidas. Você vai perceber que ela tem cor, tem raça, tem gênero ou não, tem classe social. 

E o quanto ser  interseccional na elaboração de estratégias reais, tangíveis e sustentáveis pensando nos ambientes organizacionais pode atrair e incluir todas nós.

Nós somos mulheres de todas as cores, etnias, gerações, orientação sexual e somos muitas.